terça-feira, 2 de agosto de 2011

O olhar renovador de uma criança

O tempo não para. As coisas acontecem, algumas passam, já outras permanecem. Ninguém percebe, nós não nos damos conta. Está tudo ao alcance dos nossos olhos, porém o cotidiano se encarrega de fechá-lo diante das coisas sempre presentes, e por isso, talvez, muito importantes para nós. Como diria o ator baiano, João Pimenta, com a mais nova febre da internet, um personagem por ele criado, o Pé de Pranta: na correria da atividade do dia-a-dia, os detalhes não são percebidos, observados e compreendidos como fundamentais. E assim segue a vida, sendo que apenas os fatos não corriqueiros são recordados, chamados de lembranças.
Mas será que são todos, sem exceção, desatentos em relação à presença de coisas que equilibram nossas vidas e que estão sempre abaixo dos nossos narizes? O grande responsável por esse “fechar de olhos” é o cotidiano turbulento; já, quem não partilha dessa realidade atual típica de sociedades capitalistas é agraciado por enxergar tudo com clareza. A criança, com toda pureza e ingenuidade, se prende às representações e reflexos das ações comuns na construção do seu caráter, intelecto e personalidade. Em uma simples brincadeira de criança, estão aprisionadas essências e sensações boas, capazes de amenizar dor, sufoco ou irritações. Se nos atentarmos, por exemplo, a um balanço infantil: sempre indo e voltando. Estabelecendo um paralelo com a realidade, as boas sensações e emoções não são constantes, elas estão sempre a nos deixar, no entanto, em certo intervalo de tempo, retornam. A depender da intensidade com que as decisões são tomadas freqüência da ocorrência de experiências agradáveis, ou não, é determinada. Logicamente, crianças ainda não analisam metaforicamente o movimento do balanço, porém ao mais importante se retêm: as ótimas vibrações que fluem do simples gesto de brincar.
É fato que os olhos inocentes dos infantes também vêem o extraordinário onde o resto só ver o dispensável, os restos. Ou pelo menos, quase todo o resto. O lixo representa, para a maioria, o desprezível, sem mais valor. Agora o que nunca ninguém observa e reflete é que dentro da mais “repugnante e medíocre” cesta de lixo na rua pode haver vestígios de inúmeras histórias de vidas, visto que infinitos são os motivos capazes de desvalorizar objetos, e são eles que materializam as lembranças indesejáveis. Essas, sim, deveriam ser eliminadas, mas como é difícil, o lixo é a alternativa tida para descarte de parte significativa da lembrança. No entanto, o que parece inútil para muitos, é magnífico para outros, que encontram nessa fonte renovável de recursos a sobrevivência.
Agora se pergunte quantas foram as vezes em que você passou pelo parquinho, pelo latão de lixo, e ignorou naturalmente o que essas imagens corriqueiras representam na nossa sociedade e construção de uma consciência humanitária? É preciso o milagre da multiplicação no que se diz respeito aos olhos inocentes e reveladores de uma criança.

Bruna Amichi

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